6 de jan. de 2013

Folhetim

Não é nenhuma surpresa para o leitor que eu gosto de Chico Buarque, né?

Pois essa música não sai da minha cabeça desde o dia 2 de janeiro:



(tá tá... acho que já to postando demais ultimamente... especialmente coisas inúteis. Desculpa D=)

R$

Estresse

[Essa postagem é um pouco louca. Só quis compartilhar algumas coisas que me têm acontecido nesses últimos dias]

Ao longo desse ano, trabalhei como "assistente de pesquisa" numa universidade alemã (como eu já tinha dito que faria, nesse post, super antigo).

Junto com mais 8 brasileiros, chegamos a Kaiserslautern numa noite fria de fevereiro (-7°C na rua ). Houve uma certa confusão sobre para que grupo de trabalho eu deveria ir, mas no fim das contas consegui ir para aquele a que me tinham dito que iria: o Echtzeitsysteme AG (Grupo de Trabalho de Sistemas em Tempo Real -- aliás, olha como é mais curto em alemão n_n).

No ano anterior, pelo que meio que ouvi, um certo outro brasileiro tinha meio que estragado as coisas com o pessoal daquele laboratório: pelo que andei entendendo, o pessoal reclamava que ele era meio vagal, meio preguiçoso. Para melhorar a situação, fiz o máximo para dar uma boa imagem ao longo do ano (acho que consegui, na real).

Reclamei por um tempo que meu trabalho no laboratório era diferente do trabalho dos outros nos outros laboratórios. Tinha a sensação de que desde o início os outros ganharam um grande tema no qual trabalhar e que não havia grandes cobranças sobre seus resultados. Ao término de nosso tempo por aqui, eles apresentariam o que fizeram. E era isso. Ponto. Ao menos foi a sensação que me passaram. Eu, em vez disso, tinha de declarar exatamente o número de horas em que estive no laboratório em cada semana e dizer o que andei fazendo (mesmo durante o curso intensivo de alemão, quando vários dos outros -- se não todos -- foram liberados). Se eu quisesse viajar, era orientado a perguntar com certa antecedência ao professor (o que não ocorreu com os outros).

Mais: durante um bom tempo, me senti o que na época chamei de "fazendo trabalho de macaco" (na real não fui eu o criador da expressão). Não que eu não gostasse do que fazia, mas sentia que eu não tinha de pensar muito; só fazer aquilo que me mandaram e deu. Houve inclusive uma vez em que minha tarefa foi renomear um monte de variáveis de um programa em Java. Apesar de, ok, entender que alguém ía ter que fazê-lo (e que eu era o cara para fazê-lo), admito que me enciumava do que os outros comentavam sobre seus projetos.

Além disso, desde o início pedi um "assunto" para o meu TCC. No caso de vários outros colegas, tenho a sensação de que desde o início eles sabiam que aquilo em que eles trabalharam desde o início do ano seria o que eles usariam como TCC. No meu caso, esse assunto só veio em setembro (mais sobre isso adiante no texto).

Ainda assim, existiu um programa que me seguiu ao longo do ano inteiro. Foi interessante e eu tive de pensar ao fazê-lo. Se no início me pareceu que seria simples demais, ao longo do tempo percebi que a coisa era um pouco mais embaixo (ou ao menos eu não enxerguei solução simples). Lá por setembro, cria tê-lo quase terminado. Mas precisaria agora integrá-lo ao trabalho de outros lá no laboratório. Não imaginei que levaria tanto tempo, mas, sim, até agora o programa ainda não está 100%.

Em setembro, mais ou menos, deu-se-me [isso tá certo?] a oportunidade de trabalhar com o Litmus, um kernel de Linux patcheado para permitir tarefas em tempo real. Finalmente, seria o TCC que eu pretendia fazer. De cara, pensei "bom, dar-me-ão esse tema e, como to quase terminando o outro programa, poderei dedicar-me somente a esse assunto". Mas é claro que eu teria de deixar o outro programa funcionando. A pressão de ambos os lados (meu "orientador" -- não sei como chamá-lo -- querendo que eu progredisse com a implementação do TCC; o outro querendo que eu terminasse o outro programa) começou.

Ao longo do tempo, para satisfazer a ambos, andei trabalhando bem mais do que eu "deveria" (por contrato). Não que eu me importe tanto: como to aqui só pra isso, não vejo problemas em trabalhar mais do que me é exigido. Mas dada a insistência em que eu progredisse por várias vezes pensei em pedir arrego, pedir pra largar o assunto do TCC. Afinal, algumas vezes isso já tava me fazendo mal, me impedindo de dormir, ou me fazendo dormir muito mal (por causa de pesadelos ou coisas assim).

E isso me trás à situação em que agora estou. Nos últimos 4 dias tudo se tornou insuportável. Não consigo dormir (to tendo pesadelos sempre, todos relacionados ao assunto, e acordando várias vezes durante a noite e tudo mais), não consigo comer direito (meu estômago tá doendo demais), não consigo nem mesmo olhar pro código (tenho tido uma dor de cabeça desgraçada -- e, se o leitor estiver se perguntando como foi que consegui escrever isso aqui, já aviso que logo que eu acordo a dor de cabeça tá um pouco mais fraca, e eu acordei há pouco) e essa noite até febre eu tive.

Não consigo parar de pensar nessa coisa... e é por isso que eu me decidi a amanhã chegar lá no laboratório e pedir arrego, pedir pra largar esse assunto como TCC. Isso já tá fazendo mal demais à minha cabeça pra que eu não tome alguma iniciativa. Sei lá...


Enfim... essa postagem foi só pra comentar como é interessante estar sofrendo de "stress" conscientemente. Apesar de eu já ter me decidido há um bom número de horas que pediria para largar o negócio, ainda to com os sintomas bizarros. Apesar de estar tentando me fazer "calmo", ainda to com a dor de cabeça, a dor no estômago e ainda me sinto meio quente. Mas me sinto "melhorando".

R$

4 de jan. de 2013

Leituras

O leitor não deve saber (imagino até mesmo que creia o contrário), mas sou um péssimo leitor. Só pra dar idéia, ao longo do ano passado (2012), li a inacreditável soma de 0 livros. Até mesmo a bíblia (que noutros anos com muito esmero sempre fiz questão de melhor conhecer) este ano acumulou sobre si pequena camada de pó. Comprei 5 livros em alemão. Li somente o prefácio do primeiro deles. Se trouxe Memórias Póstumas de Brás Cubas para a Alemanha, só o abri no avião, na vinda.

Mas não me considero alguém inculto por isso. Ao longo da vida (nossa, como sou experiente, meu Deus... HUEAHEUHA), aprendi que não é somente através dos livros que se acumula cultura. Obviamente li algumas coisas através dos anos. Me orgulho de poder comentar sobre os filmes d'O Hobbit e d'O Senhor dos Anéis com a propriedade de alguém que realmente sabe o que deveria ter acontecido em cada parte, por exemplo.

Bem... se não gosto de literatura, é verdade que perco muito do meu tempo lendo sobre coisas outras. Nos últimos tempos, meu principal passa-tempo têm sido os artigos da Wikipédia. Em geral, tenho lido sobre lingüística, que foi definitivamente O tema das minhas conversas e pensamentos mais focados no ano que há poucos dias se terminou. Assim, desde que começou o recesso de final de ano, aproveitei o tempo "livre" (na verdade, não era pra ser tão livre, já que tenho definitivamente coisas para fazer; mas com a minha enorme falta de motivação em continuar meu trabalho, acabei frequentemente me entregando ao prazer que me era através da internet ofertado) para freneticamente devorar uma série de artigos (e algumas páginas relacionadas) que já figuravam na minha lista há um bom tempinho.

[ainda sobre a "cultura": não creio que eu perca para qualquer pessoa comum que se considere "uma ótima leitora" nos quesitos vocabulário e conhecimentos sobre a língua portuguesa -- apesar de frequentemente essa nem mesmo ser a língua de grande maioria do que consumo]

Boa parte dos links que postarei aqui já publicar-se-aram [eu sei, eu sei, mesóclise não se usa com passado; só queria brincar] em meu Facebook uns tempinhos atrás. Posto aqui mais mesmo é para que num futuro distante se me seja fácil encontrá-los.

Os primeiros são três artigos sobre como mudanças de uma língua pra outra ocorrem dentro de uma população. Ao lê-los, fiquei pensando se não seria possível constituir uma pequena comunidade de falantes de espanhol em Guaíba. Sério, se eu fosse professor de espanhol tentaria. Como a cidade é pequena e o espanhol poderia ajudar os cidadãos a melhorar de vida (conquistar vagas melhores no mercado pelo simples fato de dominarem uma segunda língua), creio que seria bem tri testar.
http://en.wikipedia.org/wiki/Language_shift
http://en.wikipedia.org/wiki/Language_revival
http://en.wikipedia.org/wiki/Language_death

Mais: fiquei me perguntando se o aprender espanhol (que, apesar de suas especificidades e tudo mais, eu frequentemente gosto de enxergar como "um português cortado a machado"*), que ainda mantém várias estruturas na fala que nós, ao longo do tempo, acabamos perdendo (conjugação na segunda pessoa, diferença entre imperativo "afirmativo" e "negativo", uso de "eis que" no início das frases, etc...), não acabaria reavivando ("por analogia", digamos assim) o seu uso no nosso português.


Seguindo, posto esse link:
http://en.wikipedia.org/wiki/Productivity_%28linguistics%29
Tendo chegado a esse artigo da wikipedia (através dos link anteriores, creio), fiquei pensante sobre os verbos da segunda e terceira conjugação ("er" e "ir", como em "acontecER" e "saIR"). Enquanto a segunda me parece produtiva somente quando descendente do verbo "ter", diria eu que a terceira esteja fadada à esterelididade. Afinal, ao criar novos verbos, o mais comum é mesmo o "ar", como em "deletar", "fakear", "loadear", "erasear", "socketar" (pra os jogadores de Diablo), etc.



Ainda, tenho percebido que ultimamente cada vez mais crio palavras com sufixos "ume" (fodalhume, relaxume, assume [assadura]), "oso" (fodalhoso, grandalhoso) e "udo" (espertalhudo, fodalhudo), e ainda aberrações como "grandalhosume" (usei isso ainda hoje mesmo) ou "pirateosamente". Não creio que sejam muito comuns essas minhas palavras, certo?


Continuando, li uma série de artigos (e algumas referências externas) sobre a evolução do latim [vulgar] às línguas que hoje falamos. Não tava sabendo que antigamente o latim tinha substantivos neutros. Isso é uma "perda" complicada que a gente não mais vai recuperar (mas quem se importa? O neutro do latim era quase uma farsa, declinando igual ao masculino em todos os casos fora o nominativo singular e plural e o acusativo plural)
. Também é legal perceber que as nossas conjugações permaneceram bem próximas das originais, mesmo depois de milênios. Vale a pena tirar um tempo e ler esses artigos!

(sobre o neutro... a gente até que ainda o mantém através de alguns pronomes como "isso" [em oposição a "esse" e "essa"], "isto" e "aquilo". Só... também... creio eu)

http://en.wikipedia.org/wiki/Vulgar_Latin
http://en.wikipedia.org/wiki/Romance_verbs
http://en.wikipedia.org/wiki/Romance_languages#Verbal_morphology
http://en.wikipedia.org/wiki/Romance_copula#Portuguese
http://en.wikipedia.org/wiki/Vulgar_Latin_vocabulary
http://en.wikipedia.org/wiki/Reichenau_Glosses



Nesse ponto, eu já tava cansado de ler palavras como "fricative", "affricate", "plosive", sem nem ter idéia de o que essas coisas significavam. Por isso, me parei a ler esses artigos (e várias coisas relacionadas):

http://en.wikipedia.org/wiki/Manner_of_articulation
http://en.wikipedia.org/wiki/Place_of_articulation

Infelizmente, essa coisa de "som" é meio complicada. Eu frequentemente vejo tabelas com infinitos símbolos de fonemas que não me fazem sentido algum. Tenho que procurar aprender melhor o que cada um dos símbolos significa.


Os três próximos links relacionam-se com "aspecto gramatical". Uns 2 anos atrás, enquanto conversando com um amigo intérprete de LIBRAS sobre como tratar de "tempo" na linguagem objeto de seu trabalho, lembro-me de ter ouvido falar de um tal de "aspecto". Creio que seja esse o aspecto sobre o qual ele falava: (afinal, o próprio artigo fala que a ASL é rica em aspecto, apesar de pobre em tempo -- ee, bem, a ASL é irmã da LIBRAS, sendo ambas decendentes da língua francesa de sinais)

http://en.wikipedia.org/wiki/Grammatical_aspect
http://en.wikipedia.org/wiki/Habitual_aspect
http://en.wikipedia.org/wiki/Habitual_be

Achei bem fodinha esse treco do "Habitual be". Sério... se fosse aceito entre nós brasileiros que "a minha vó ser assistindo TV" significasse "a minha vó tem o hábito de assistir TV", eu ía achar ultra fodástico.


Finalmente, dois links meio "randoms". Um deles foi recomendado pelo autor do "Elmord's Magic Valley" ali do lado quando comentei sobre purismo lingüístico um tempo atrás (nem lembro o contexto D=) e há tempos eu tava me enrolando pra ler; atrás do outro eu fui porque uma amiga comentou sobre "Philologie" (em alemão) quando eu comentei sobre lingüística e eu não sabia o que era.

http://en.wikipedia.org/wiki/Linguistic_purism_in_Icelandic
http://en.wikipedia.org/wiki/Philology


Por fim, sugiro a busca pelas palavras "algures" e "nenhures" na internet e a sua comparação com "algo", "nada", "algum" e "nenhum", "alguém" e "ninguém".

Ainda... vale a comparação também entre as palavras "alhures", "alheio" e "além". (e ainda hoje eu quase escrevi "alhém", me referindo a "alguma outra pessoa")

R$


*: Não me xinguem!!! Eu sei que o espanhol tem coisas super legais que a gente não tem, como o pretérito anterior (que conseguimos emular somente através de uns advérbios), e o pretérito perfeito composto (que tem algum significado específico que eu ainda não consegui compreender). Eu digo "a machado" porque ele parece "rústico" em relação ao português, com uma gramática que me parece bem menos "elegante" que a nossa.